Na mesma direção.


Enquanto tomava café, olhava em volta da sala de jantar, ao redor da mesa, o rosto dos filhos. Sentiu paz no coração e uma leveza na alma.
Lembrava de toda sua trajetória até ali, e suspirava, seu coração estava tranquilo, sentia ter feito um bom trabalho com os filhos, ter sido uma boa mãe, uma boa mulher, uma boa esposa.
 Olhou o marido, ele estava mais velho, cansado, engordou um pouco, mas continuava bonito . Ao olhar para o esposo, sentiu saudades da época do namoro , lembrou dos beijos longos, demorados e molhados, tão calorosos eram os abraços que mal começavam e terminavam na cama e sentiu saudade desta época, da paixão.
Hoje em dia quase não beijavam mais, e os beijos ao passar dos anos foram ficando curtos, os abraços raros até tornarem-se escassos, não eram os mesmos beijos de antes, beijos de paixão e desejou os abraços apertados, calorosos...Sabia que o amor, amizade, parceria, eram presentes naquela mesa, naquela sala mas a paixão, não estava mais nos abraços, no beijo, na cama...Será que já acabara ou esfriou, porque tinha que ser assim, perguntou-se?
Será que a paixão foi ficando esfacelada juntamente ao vestido azul que usava quando o conheceu em um carnaval há trinta anos atrás?
Vestido que foi rasgado logo no primeiro encontro, no qual se viram, se beijaram e se amaram ali mesmo em um beco como dois animais no cio sem dizer uma palavra, ela ainda guardava o vestido e toda imagem gostos e sons daquele dia, em sua lembrança.
Suspirou ao resgatar na memória a imagem de um dia ter sido tão desejada e amada, lembrou-se das milhões de vezes que brigaram e fizeram as pazes e brigaram novamente só para "ficarem de bem" e sorriu.
Sempre juntos, pensou, as ideias, opiniões as vezes divergiam, sempre brigaram muito é verdade, mas caminhavam juntos para mesmo sentido , na cama, na lama, não importava o que acontecesse. Foram bons amantes, bons amigos, bons pais... foram felizes e ainda eram só faltava um pouco de paixão , ela desejou ter mais beijos e que fossem beijos longos, abraços calorosos dos quais foram se perdendo no cotidiano junto com as preocupações e resoluções dos problemas que iam surgindo. Pensou que talvez, só precisassem de mais dias de carnaval fora de época e um novo vestido azul...
Pensou que no geral, ainda caminhavam juntos e para mesma direção, era isso que importava ir na mesma direção, sempre, na cama, na lama com dias de carnaval ou não, com ou sem vestido azul, sempre juntos não importa o que acontecesse. Isso eram coisas que aconteciam em todo o casamento.
Ao olha-lo novamente, ele piscou, ela sorriu e percebeu estar apaixonando-se novamente...e desejou que durasse mais 30 anos, para poder assim apaixonar-se de novo... e juntos caminhariam na mesma direção, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte o separassem...como devia ser, todos os casamentos, apaixonando-se sempre pela mesma pessoa, até o fim dos dias, caminhando juntos na mesma direção.

O dia de hoje.


Que a gente tenha tempo de perceber que  perdemos tempo demais não fazendo e não dizendo certas coisas, que provavelmente fariam bem á nós mesmos e á outras pessoas!Perdemos todos os dias a chance de ser e fazer alguém feliz, perdemos tempo com coisas banais e deixamos boas oportunidades de sentirmos a verdadeira felicidade ir embora.

Deixamos de dar abraços de carinho, sorrisos sinceros, beijar loucamente e dizer palavras gentis, palavras de carinho aqueles que amamos e admiramos, estamos sempre deixando pra depois coisas que podíamos e devíamos fazer HOJE!
Afinal temos uma só vida, temos que pensar em vivê-la da melhor forma possível, talvez a gente só tenha o HOJE pra falar e fazer coisas das quais não nos custa nada e ainda pode fazer um bem danado á nós e a outras pessoas também.
Então, pra que economizar tempo?Dinheiro?Vamos viver, sem a vergonha de ser feliz, não vamos economizar palavras gentis, sorrisos sinceros e abraços de carinho,  sem economia de beijos de amor, vamos dar o que temos de melhor...e que seja HOJE!!!
Porque  HOJE estamos vivos...

Ela.


Ela sempre acreditou no amor, queria ser amada, desejava casar-se, programava este dia e fazia planos de uma grande festa, com vestido branco em um sábado de maio.
Ela sonhava com a lua de mel, depois os filhos, a casa , cuidar do marido, ela queria um romance com um final feliz, ela queria todo amor do mundo.
E pelas andanças da vida, encontrou alguém que quisesse casar e compartilhar um sonho, uma vida, ela se apaixonou, enfim, após um curto período de namoro casou-se, mudou-se e foi viver seu sonho...
Mas ela queria um amor de cinema, queria ser inundada de amor, queria se afogar neste sentimento do qual via nos filmes, lia nos livros e não vivia em casa. A paixão do começo de namoro, havia se esvaído juntamente com alguns sonhos de duas pessoas se entrelaçar e virarem uma só.
Perguntava-se o tempo todo onde estava o encanto do seu casamento e dizia querer um amor de cinema, de novela, destes que só se vê em tv, queria café na cama, queria flores no trabalho, bilhetes no retorno e o fogo da paixão no jantar, e a madrugada de abraços e carinhos.
Ela queria mais amor, ela queria todo amor do mundo.
Sonhava com romance de cinema e a realidade para ela mostrou-se dura demais.
Sentia que estava cheia, mas era cheia de sentir-se vazia, vazia de amor, não tinha todo amor que esperou sentir, e achava que o que recebia era pouco porque nunca conseguia satisfaze-la e encher sua alma.
 O marido tentava fazer demonstrações de carinho, mas o tempo vai passando e a rotina, bem , esta não se pode evitar de maneira alguma e ficar sempre alerta em todos os detalhes, da casa, cama, mesa e banho, programar surpresas e declarações, tornava-se cada vez mais difícil, depois tornou-se escasso até tornar-se raro e um dia findou-se...E ela percebeu que estava se afogando não no amor, mas em suas lágrimas e lamúrias que esperavam receber algo que não vinha nunca.
Invejava os casais felizes que via nas ruas e se imaginava em alguns rostos e abraços que via por ai...Após o divórcio , passou a sentir-se só , o silêncio invadia a casa e seu coração.
E ela acabou só, ela e seu desejo infindável de viver um romance de tv do qual nunca se viu na vida real.